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O tempo na narrativa

O tempo na narrativa

A literatura é uma arte predominantemente temporal. Dois tempos, pelo menos, estarão interligados na obra literária de caráter épico ou narrativo, uma vez que a narrativa possui três planos, conforme nos mostra Benedito Nunes (1988); o da história, do ponto de vista do conteúdo, o do discurso, do ponto de vista da forma de expressão, e o da narração, do ponto de vista do ato de narrar. É, sem dúvida, no plano da história que o tempo na obra literária é outro que não o real. Entretanto, o tempo da história, que denominamos imaginário (psicológico), depende ainda do tempo real (cronológico), que subsiste na consecutividade do discurso em que aquele se funda, e à custa do qual aparece ou se desloca. No discurso, o tempo segue a concreção da escrita, tanto no sentido material de seguimento das linhas e páginas quanto no sentido da ordenação das seqüências narrativas, dependendo, de certa maneira, do ato de leitura e, portanto, do percurso que o leitor realiza no espaço do texto. O discurso nos dá a configuração da narrativa como um todo significativo; a história, o aspecto episódio dos acontecimentos e suas relações, juntamente com os motivos que os concatenam, ambos impondo à narrativa um limiar de inteligibilidade cronológica e lógica, traduzível num resumo. O tempo de uma corre paralelamente ao do outro. O tempo da narrativa é do modo de apresentação e da voz, uma das categorias do discurso. Mas as suas variações não podem ser aprendidas se apenas visamos o discurso independentemente da história, ou apenas a história, independentemente do discurso. O tempo da narrativa só é mensurável sobre esses dois planos, em função dos quais varia. Ele deriva, portanto, da relação entre o tempo de narrar e o tempo narrado. De acordo com Nunes (1988), o tempo apesar de ser a condição da narrativa, não pode ser narrado, sendo apenas preenchido com os acontecimentos que seguem uma seqüência. Não havendo esse preenchimento, o que resta do tempo é apenas o vazio. O tempo possui diversos aspectos. No tempo físico temos o movimento exterior das coisas e no tempo psicológico a sucessão dos nossos estados internos. O tempo físico e psicológico estão em permanente descoincidência. O tempo que firma o calendário é o cronológico. Que está intimamente relacionado ao físico, e pode ser considerado o tempo dos acontecimentos. Já o tempo histórico representa a duração das formas históricas da vida. Quanto ao tempo lingüístico, podemos dizer que ele não se reduz às divisões do tempo cronológico. Ele revela a condição intersubjetiva da comunicação lingüística. O tempo lingüístico relaciona-se com o ponto de vista, seja da visão onisciente ou impessoal do narrador em terceira pessoa, seja de sua visão identificada com uma das personagens do narrador em primeira pessoa. O tempo lingüístico demarca-se através dos diálogos das personagens ou nos enunciados a respeito delas por intermédio de palavras como: hoje, amanhã, depois, etc.